A paz
O Brasil inteiro deveria estar falando disso, e só disso
Foi na terça à noite e eu não estava assistindo. Vi depois, e creio que hoje a gente só vê determinadas coisas por sorte, mesmo. Acaso, talvez seja essa a palavra exata.
Não devia ser assim. Na quarta-feira, na padaria, todos deveriam estar falando sobre. O homem solitário no balcão, que todas as manhãs pede um café e um pão na chapa com pouca manteiga e requeijão na saída. O chapeiro, que sabe que o homem vai pedir um pão na chapa com pouca manteiga e requeijão na saída. A moça do caixa, que foi dormir mais tarde para ver, e valeu a pena. Não acha?, pergunta ao homem solitário que paga o pão na chapa e o café. Antes ela já tinha comentado com o motorista do ônibus. Com o cobrador também, embora os cobradores hoje falem pouco, passem o dia entediados observando os passageiros usarem seus cartões magnéticos, e quando alguém quer pagar em dinheiro se irritam. Mas na manhã de quarta-feira ele não estava irritado, ninguém podia estar irritado depois de ver aquilo na TV.
Até ele sorriu, pensou a moça do caixa da padaria quando o homem do pão na chapa com pouca manteiga etc. sorriu, e ambos sorriram, e o dia de ambos, assim, começou melhor, mesmo que o sorriso dele tenha sido tristonho, como tristonho sempre lhe pareceu o homem do pão na chapa.



