Só não vai embora, Lusa
Tem gente querendo colocar 1 bi no clube; se a salvação for essa, que seja
Teve uma vez que a caravana voltou do Rio e chegou de madrugada a São Paulo. O metrô ainda não tinha aberto, estava escuro. A gente chamava essas viagens de caravanas, acho que ainda chamam assim. Ganhamos do Botafogo no Maracanã, 1 a 0. Gol do Daniel González, que era muito ídolo. Uruguaio, depois jogou no Corinthians, foi para o Vasco, morreu num acidente em São Conrado. Tinha um Monza. Tragédia desgraçada.
Nossa caravana tinha só um ônibus, e a gente só viajava nos ônibus da Benfica, porque acho que o dono era diretor do clube e cedia de graça. Nossa sede, da torcida, ficava num salão até razoável no alto das arquibancadas do parque aquático, tipo um depósito que ficava bem no meio dessas arquibancadas, se minha memória não falha. Lindo parque aquático, várias piscinas, tobogã e torre de saltos, projetado pelo Vilanova Artigas. Lá guardávamos as bandeiras, faixas e instrumentos.
Sem metrô, deitei sobre as bandeiras e dormi, esperando o dia amanhecer e o metrô abrir. Foi a primeira vez que dormi fora de casa na vida. Tinha 16 anos. O jogo foi num sábado e eu morava em Campinas. Minha rotina, nos quatro anos em que morei em Campinas, era sempre a mesma. Pegava o Cometa até a rodoviária colorida que ficava perto da estação da Luz, caminhava até o metrô, descia na Ponte Pequena e ia para o estádio a pé, atravessando um matagal ao lado da Escola Técnica Federal. Depois dos jogos fazia o mesmo caminho de volta, pegava o metrô na Ponte Pequena, saltava na Luz, voltava para a rodoviária e esperava o primeiro Cometa para Campinas. Tinha umas bancas de jornal enormes na rodoviária, e quando sobrava algum dinheiro comprava um Tintim ou um Asterix, que começava a ler quando o ônibus entrava na Anhanguera e era o tempo certinho de leitura até chegar à rodoviária de Campinas. Às vezes ficava enjoado porque os ônibus da Cometa tinham um perfume adocicado que não me fazia muito bem. Uma vez abri a janela, coloquei o braço para fora, o trânsito estava parado e um moleque veio pela rua, deu um salto espantoso e arrancou meu relógio Casio do pulso. Foi a primeira vez que fui assaltado.
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