Viver é melhor que sonhar

Série da Netflix pinta um Senna bem menos interessante que o real

Gabriel Leone, que faz Senna na série da Netflix

Creio que a série da Netflix encerra de vez as festividades dos “30 anos do legado de Senna”, eufemismo engenhoso criado já há algum tempo para evitar que família, marcas, publicitários, produtores de conteúdo e gente como eu, que tem algum envolvimento com Fórmula 1, use a palavra “morte” para se referir, com muito mais precisão, à efeméride de 1º de maio de 1994.

Me incluo fora dessa, de certa forma, porque o primeiro texto que escrevi aqui para vocês, queridas e queridos assinantes, salvo engano (não estou com paciência de procurar), tinha como título algo como “O legado é a grana”. Voltei ao tema algumas vezes, apalermado que fiquei com as campanhas publicitárias que usaram o nome do piloto sem o menor pudor, apelando a imagens de inteligência artificial para vender guaraná, colocando uma cerveja que nem era comercializada no Brasil na época para brindar suas vitórias, conclamando o público que foi a Interlagos a usar o verde-amarelo, além de enfiar o nome do cara num edifício de 500 metros de altura em Balneário Camboriú (onde mais?), criar uma exposição oferecendo a voz dele por “condução óssea” e outras bizarrices.

A última recebi esta semana: uma marca de tênis que lançou dois modelos inspirados nos “icônicos” macacões que ele usou no passado, um preto e dourado como a Lotus, outro com referências aos tempos da McLaren. Vermelho, vocês devem estar imaginando. Não, era branco. “Os modelos celebram a personalidade e o estilo de vida do piloto. O primeiro, inspirado no macacão que Senna usava ao conquistar seus três títulos mundiais de Fórmula 1, traz elementos que remetem ao forro do traje e detalhes do icônico capacete”, informou o texto da assessoria de imprensa da referida fabricante (ASICS, se vocês ficaram curiosos).

Remetem ao forro do traje. Putz. O forro.